Um novo tipo de DEX
Escrito em 05.06.2018 por Jake Yocom-Piatt, Decred Project Lead
A exchange descentralizada (“DEX”, na sigla em inglês) é um conceito que tem recebido atenção crescente na área de criptomoedas devido à exchanges hackeadas, usadas para golpes de dump de moedas criadas com esse propósito ou submetidas a ações regulatórias. Há vários projetos de criptomoedas com a intenção de substituir as exchanges centralizadas e virtuais que só negociam criptomoedas por um token ou uma blockchain. Nós propomos uma alternativa às exchanges descentralizadas existentes com as seguintes características:
- Facilitar a troca apenas entre criptomoedas, não moedas fiduciárias.
- Arquitetura simples de cliente e servidor, sem um token correspondente ou uma blockchain.
- Operadores de servidores nunca assumem a custódia dos fundos dos clientes.
- Usar transações on-chain para executar ordens e aplicar regras.
- Operadores de servidores não recebem taxa por corresponder ordens.
- Adicionar suporte para moedas é simplesmente uma questão de adicionar o suporte ao atomic swap.
- Ordens colocadas na exchange podem ser gerenciadas internamente por meio de regras impostas pelos clientes e pelo servidor.
- Clientes mal-intencionados são gerenciados usando um sistema de reputação na Politeia.
- Existência de uma taxa inicial para criar a conta do cliente no servidor, para desencorajar o comportamento mal-intencionado.
- A correspondência de ordem ocorre de forma pseudo-aleatória em intervalos de tempo.
- O tamanho das ordens de compra e venda de um par são padronizados.
- Ordens Limit e cancelamentos são transmitidos aos clientes através do servidor, mas as ordens Market são roteadas de cliente para cliente.
- A execução quase instantânea de ordens menores pode ser obtida por meio de uma rede off-chain baseada em LN usando atomic swaps.
- Servidores podem se conectar por meio de uma malha de servidores em rede para permitir a correspondência de ordens entre servidores.
- Serviços externos, por exemplo carteiras, podem acessar uma API simples de cliente no servidor que fornece um feed de dados, capacidade de enviar ordens e outros serviços.
Acredito que essa infraestrutura tenha a capacidade de melhorar substancialmente a resiliência do ecossistema de criptomoedas como um todo, e o mercado do Decred mais especificamente. A seguir, vou explicar as muitas considerações que nos levaram a propor a arquitetura resumida acima.
Motivação
Qualquer pessoa familiarizada com os processos de operar uma exchange, usar uma exchange ou conseguir fazer um projeto de criptomoeda ser adicionado a uma exchange sabe que existem vários obstáculos com os quais é necessário lidar. Para os operadores de exchanges centralizadas, há inúmeros obstáculos a serem enfrentados, pois a custódia de fundos de clientes exige a conformidade com vários regulamentos específicos de cada jurisdição e com várias agências reguladoras, por exemplo, registrar-se no FinCEN, a lei “Bank Secrecy Act”, implementar políticas KYC/AML (Know Your Customer e Anti-Money Laundering) e registrar-se como um transmissor de dinheiro. Para usuários de exchanges centralizadas, estar sujeito a KYC/AML é uma considerável invasão de privacidade e os fundos dos clientes na exchange podem ser congelados a qualquer momento, por uma variedade de razões. Os projetos que buscam adicionar sua criptomoeda à uma exchange costumam ser pressionados a pagar taxas de listagem, apesar de o trabalho de adicionar o suporte ser simples, e muitas exchanges maiores só estão interessadas em listar criptomoedas que eles acham que gerarão mais lucro por meio de taxas de negociação.
Vários projetos DEX foram criados para resolver alguns desses problemas, substituindo a exchange por uma blockchain ou um token, e eles obtiveram graus de sucesso diferentes. Enquanto eles removem o terceiro de confiança (“TTP” para Trusted Third Party, na sigla em inglês), inserem seus próprios produtos como um meio de capturar as taxas de negociação, o que substitui o atrito do TTP pelo atrito da plataforma. O simples ato de coletar taxas de negociação serve como incentivo para centralizar uma determinada solução, o que contraria um sistema de exchange voluntária aberta. Ao mesmo tempo que uma blockchain ou token serve para remover o TTP, ele também cria desafios com a correspondência de ordens, que normalmente ocorre através da blockchain intermediária ou do token.
Além de todos os desafios presentes na regulamentação, na experiência do usuário e no futuro da tecnologia, as exchanges e os atuais projetos de DEX, juntamente com seus ecossistemas, são vulneráveis a exploração por algoritmos de negociação de alta frequência (“HFTs”). Os HFTs têm se tornado uma influência cada vez maior nos mercados de ações, commodities e câmbio desde os anos 90, e vários “flash crashes” notáveis ocorreram como resultado de HFTs retirarem sua liquidez simultaneamente. Os HFTs normalmente mantêm as posições que eles abrem em um determinado momento a um mínimo, mas eles abrem e fecham essas posições com uma frequência muito alta. Eles aproveitam as políticas de correspondência de ordem do primeiro a entrar, primeiro a sair (“FIFO”, para “first in, first out” na sigla em inglês) nas exchanges e tomam medidas extremas para ter uma latência menor do que a concorrência. Por exemplo, os HFTs enviam ordens a partir de máquinas fisicamente muito próximas aos servidores das exchanges, pagam grandes somas pelos feeds de dados de menor latência, usam FPGAs ou ASICs para gateways de ordens, usam repetidores de microondas ou laser para reduzir a latência entre exchanges. Embora existam tentativas de caracterizar os HFTs como positivos já que, por exemplo, eles adicionam liquidez ao mercado, essa liquidez pode desaparecer em um piscar de olhos e os HFTs atuam como uma bomba sugando os fundos de participantes do mercado menos sofisticados do que aqueles que operam os HFTs. Além da questão sobre ser ou não justo operar esses HFTs, fica claro que os operadores de HFTs podem distorcer seriamente o preço dos ativos que negociam, sabotando o processo de descoberta de preços. Muitos desses HFTs são operados e/ou financiados por bancos de investimento que são braços dos principais bancos internacionais, o que significa que apesar das criptomoedas removerem a necessidade de bancos para armazenamento e transmissão de valores, o setor bancário fiduciário ainda pode exercer influência considerável sobre as criptomoedas através de seus HFTs.
Considerações práticas
Para fazer uma DEX funcionar, há uma série de considerações práticas básicas que precisam ser levadas em conta. Usando atomic swaps, é possível trocar criptomoedas suportadas sem um terceiro de confiança (TTP), tanto on-chain quanto off-chain. Para gerar e manter um livro de ordens, é necessário que haja um ponto de encontro onde os usuários possam informar os preços. Para evitar que os usuários enviem ordens fraudulentas, é necessário um mecanismo para demonstrarem que controlam os fundos correspondentes às suas ordens. Os usuários precisam ser capazes de transmitir e receber ordens Limit e Market para que suas ordens possam ser correspondidas. Devido às restrições das transações on-chain, as ordens Limit devem ter um tamanho padronizado on-chain. É possível começar com uma arquitetura cliente-servidor simples e estendê-la fazendo com que os servidores transmitam ordens entre si, criando uma malha.
Atomic Swaps
Como demonstramos com nossas ferramentas de atomic swaps em setembro de 2017, usando um contrato inteligente de complexidade mínima, é possível trocar duas criptomoedas separadas de uma forma confiável, e esse processo é chamado de atomic swap (troca atômica). A ausência de necessidade de confiança do atomic swap é a base natural para construir uma DEX. Vários outros projetos de DEX fazem uso de atomic swaps exatamente por esse motivo. Um atomic swap pode manipular a liquidação de ordens correspondentes tanto on-chain quanto off-chain, de modo que a tarefa de construir uma DEX se torna uma questão de manipular o processo de correspondência de ordens.
Arquitetura cliente-servidor
Usando atomic swaps como base de construção, podemos começar a discutir os contornos gerais da arquitetura de uma DEX. Vários projetos DEX existentes tomaram a decisão de substituir a exchange por uma blockchain autônoma ou um token Ethereum. Esses projetos usam as taxas associadas à execução de ordens como um meio de extrair valor do processo de troca. No entanto, o leitor mais atento observará que os atomic swaps facilitam a negociação sem exigir qualquer terceiro de confiança (“TTP”). Consideramos que, em vez de recriar um TTP como uma blockchain ou token, o caminho mais lógico é criar uma DEX como um serviço cliente-servidor simples que elimina totalmente a necessidade de qualquer TTP. As blockchains e os tokens são soluções muito “pesadas” e impõem uma variedade de restrições de engenharia, e portanto, evitá-las nos liberta dessas restrições. Em sua forma mais básica, uma DEX é simplesmente um ponto de encontro onde os usuários que desejam trocar criptomoedas se encontram e participam de algum processo de descoberta de preços. A utilização de um modelo cliente-servidor para uma DEX nos permite recriar a forma mais básica de troca humana em um contexto sem permissões: um espaço aberto sob demanda.
Verificação de ordem
Evitar que os clientes criem ordens fraudulentas é um componente importante para garantir que a DEX funcione sem problemas. Para negociação on-chain, é fácil demonstrar o controle dos fundos assinando mensagens de ordens com as chaves privadas que correspondem aos fundos referenciados em uma ordem. Observe que assinar ordens usando uma chave privada correspondente ‘deixa vazar’ a chave pública, o que tem algumas implicações negativas de segurança, particularmente no contexto de um adversário com um computador quântico. O servidor precisará verificar cada ordem em relação a uma cópia local da blockchain correspondente ou a um serviço de block explorer para verificar se ela é válida e está devidamente assinada. Depois que a ordem de um cliente é validada pelo servidor, ela pode ser transmitida para um ou mais clientes pelo servidor.
Roteamento de ordens Limit e Market
Uma DEX requer suporte para dois tipos de ordens: ordens Limit e Market. Ordens Limit são ordens permanentes para comprar ou vender a um preço específico, e ordens Market são emitidas por compradores e vendedores à vista para serem exdcutadas com o melhor preço. O servidor pode atuar como um replicador burro, onde simplesmente retransmite ordens enviadas por clientes ou pode montar e manter o livro de ordens, para que ele apenas envie atualizações para o livro de ordens à medida que os clientes transmitem essas ordens. Em ambos os casos, as ordens Limit serão transmitidas para outros clientes, enquanto as ordens Market serão encaminhadas diretamente para os clientes com as ordens Limit correspondentes. Para evitar que o servidor falsifique o livro de ordens, o servidor transmitirá aos clientes apenas ordens assinadas, para que eles possam verificar se as ordens no livro de ordens são válidas.
Volume de ordem padronizado
Um detalhe importante a ser considerado com uma DEX on-chain é como lidar com execuções parciais. Por exemplo, se há uma ordem de compra Limit para DCR com BTC 100 e há ordens de venda Market sendo comparadas com ela para BTC 0.1 por DCR em cada ordem. Se permitirmos ordens Limit e Market de tamanho arbitrário, isso criará problemas, pois o cliente que tiver uma execução parcial da sua ordem deverá criar uma transação on-chain para atualizar sua ordem assinada, o que pode levar vários minutos ou até mais. Sendo mais claro, suponha que temos uma ordem de compra Limit para BTC 100. Uma execução parcial com uma venda Market de BTC 0.1 é feita contra ela e agora o cliente com a ordem de compra Limit tem que fazer uma alteração na sua ordem original para liquidar a execução parcial usando um atomic swap, forçando-o a esperar até que os BTC 99.9 restantes possam ser transformados em uma nova ordem e reenviados para a DEX. Para evitar esse problema, a DEX estabelecerá tamanhos padronizados para o volume de ordens de compra e venda de cada par negociável, e os clientes enviarão ordens usando esses tamanhos.
Malha de servidores
O produto mínimo viável para a DEX tem uma arquitetura cliente-servidor simples, mas esse modelo tem algumas deficiências que podem ser resolvidas criando uma malha de servidores que transmitem ordens entre si. Adicionar suporte para comunicação entre servidores obviamente não é trivial, mas permitiria a criação de pares de negociação em todo o mundo, com o bônus de que seria estável mesmo sob perda ou desconexão de grandes segmentos da rede, ao contrário de muitas blockchains.
Alinhando incentivos
Criptomoedas têm servido para demonstrar o imenso valor que pode ser extraído de incentivos adequadamente alinhados, e pretendemos reproduzir esse alinhamento de incentivo no contexto da DEX. Para criptomoedas, o alinhamento de incentivos está relacionado a subsídios de blocos e como distribuí-los, e com a DEX, é uma questão de como lidar com taxas de negociação, custódia de fundos e taxas de contas. Como participantes tardios do espaço DEX, temos o luxo de ver como outros projetos de DEX abordaram a questão dos incentivos, em vez de inovar no vácuo.
Taxa de negociação zero
Os atuais projetos de DEX extraem as taxas de cada transação através da sua blockchain ou token correspondente, mas nós consideramos que essa é a estrutura de incentivo errada. A cobrança de taxas sobre negociações incentiva diretamente a centralização da negociação pelo provedor de serviços, seja uma blockchain, token ou um serviço. Para realinhar incentivos com uma exchange verdadeiramente descentralizada, precisamos eliminar as taxas de negociação da DEX. Muitos usuários em potencial provavelmente ficarão felizes em ouvir isso, mas muitos projetos de DEX ou exchange centralizadas não estão interessados em ver isso sendo sugerido. É razoável perguntar “se não houver taxas de negociação, qual é o incentivo para executar um servidor DEX?”, e a resposta é semelhante à resposta a perguntas como “se ninguém está lhe pagando para operar um e-mail, bate-papo ou servidor blockchain, qual é o incentivo para executá-lo? ”. A execução de um servidor DEX fornece a você e aos outros uma utilidade tangível, que é a fungibilidade de baixo custo entre blockchains. Felizmente, nem todos precisam operar um servidor DEX para que essa infraestrutura forneça uma utilidade substancial.
Servidores não-custodiantes
Enquanto o atomic swap elimina a necessidade do servidor assumir a custódia dos fundos, o servidor que não tem a custódia dos fundos é outro exemplo de alinhamento de incentivos. Quando uma exchange assume a custódia dos fundos, seus incentivos mudam um pouco. Ela é incentivada a não perder esses fundos do ponto de vista reputacional e regulatório, mas também é incentivada a tomar outras ações (indesejáveis) como resultado dessas preocupações, como por exemplo, coletar uma grande quantidade de informações pessoais dos usuários, rastrear a origem dos fundos, compartilhar informações com o governo, atrasar e/ou limitar saques e depósitos. Além desses incentivos para reduzir o risco de perda, há sempre incentivo para que as exchanges sejam mal-intencionadas, por exemplo, para roubar fundos de usuários, manipular o livro de ordens, executar bots em seus próprios livros de ordens, fornecer contas sem taxas a usuários selecionados e fornecer vantagens de latência para usuários selecionados. Servidores DEX que não assumem a custódia dos fundos eliminam a maioria desses vários incentivos indesejáveis.
Taxa de criação de conta de cliente
Para evitar que clientes mal-intencionados causem problemas nos servidores DEX, teremos uma pequena taxa configurável pelo servidor para criar uma nova conta de cliente. Para clientes honestos, isso equivale a uma taxa única que eles precisam pagar para acessar os serviços do servidor, mas os clientes mal-intencionados terão que pagar essa taxa repetidamente se causarem problemas e tiverem suas contas desativadas. Essas taxas não serão escalonadas com volume e destinam-se a atuar como um desincentivo ao spam, potencialmente compensando alguns dos custos de operação do servidor DEX.
Transparência como uma ferramenta
Até hoje, a maioria dos participantes do segmento de blockchains viu a transparência das blockchains como um mal necessário, mas nós vamos usar essa transparência como uma ferramenta construtiva no contexto da DEX. Ao realizar trocas on-chain e usar verificação criptográfica, os clientes e servidores podem ser responsabilizados por comportamento mal-intencionado. A prova criptográfica do comportamento mal-intencionado do cliente ou do servidor será enviada a um repositório da Politeia, criando um sistema de reputação independentemente verificável para a DEX. Mais significativamente, é possível criar o equivalente a regras de consenso para um ou mais servidores DEX, permitindo que o servidor e os clientes ditem e imponham o que constitui uma ordem aceitável, que é um tipo de regulamentação descentralizada. Outro efeito colateral benéfico do uso da transparência on-chain é que torna muito mais difícil a produção de volume “falso” no livro de ordens (wash trading), e aqueles que usam técnicas duvidosas de negociação podem ser identificados.
Transações on-chain para rastreabilidade
Ao realizar atomic swaps on-chain, é possível que um cliente que esteja em qualquer lado da negociação se comporte de maneira mal-intencionada e, portanto, é necessário ter rastreabilidade no processo. Da mesma forma, é possível que os operadores do servidor DEX se comportem de forma mal-intencionada, e os clientes podem demonstrar sua ação mal-intencionada através de recibos criptográficos para ordens enviadas e executadas. Uma combinação de transações on-chain e recibos criptográficos atuará como base para um sistema de reputação para a DEX.
Sistema de reputação na Politeia
Esse sistema de reputação será baseado na Politeia do Decred, o sistema de arquivos baseado no git com registro de data e hora, e deixará claro que um determinado cliente ou servidor se comportou mal em uma data e hora específica. É possível ter vários sistemas de reputação e eles podem ser públicos ou privados, dependendo de cada caso. Clientes e servidores usarão esses serviços de reputação como base para aceitar ou negar ordens.
Regulamentação desentralizada
Embora a DEX não seja uma blockchain, é possível criar regras que sejam voluntariamente aplicadas por clientes e servidores na rede. Como foi dito antes sobre o formato das ordens, há certas regras que devem ser seguidas para que a DEX funcione adequadamente, como por exemplo, que as ordens devem corresponder a mensagens assinadas demonstrando o controle de uma quantidade correspondente de moedas não gastas. Como a DEX usará transações on-chain, é possível colocar restrições arbitrárias adicionais sobre o que constitui uma ordem válida por clientes e/ou servidores como, por exemplo, que uma ordem válida requer que as moedas não tenham sido movidas on-chain nas últimas 24 horas. É importante que os clientes e servidores concordem sobre o que é uma ordem válida ou então poderá haver problemas ao corresponder ordens, já que essas regras adicionais são análogas às regras de consenso da blockchain, que devem ser as mesmas em uma determinada blockchain com o propósito de manter a estabilidade/evitar forks. Mesmo regras adicionais muito simples, como por exemplo, as ordens só serem consideradas válidas se as moedas não tiverem sido movidas on-chain nas últimas 24 horas ou mais, podem ter consequências significativas para a DEX, por exemplo, limitando os clientes a mover suas moedas apenas uma vez por dia. Essas regras adicionais voluntariamente aplicadas constituem uma forma de regulamentação descentralizada, que permitirá que a DEX bloqueie comportamentos considerados inaceitáveis por seus clientes e servidores, por exemplo, spoofing excessivo.
Volume verificável
Um problema de grande relevância com as exchanges existentes é o volume falso. É simples configurar uma exchange e, em seguida, falsificar dados de volume ou ter um bot operando na exchange realizando negociações com ele mesmo. As exchanges centralizadas não têm como demonstrar que as negociações que nelas ocorrem são “reais” e não falsificadas ou simuladas (wash trading), uma vez que as ordens ocorrem off-chain e não podem ser verificadas em uma blockchain distribuída. Por ter a DEX operando on-chain, os dados de volume podem ser verificados externamente através das blockchains correspondentes e os atomic swaps que ocorrem lá. Além disso, as tentativas de wash trading podem ser reconhecidas e filtradas pela reputação de seu histórico de transações on-chain. Se clientes e servidores quiserem, eles podem implementar regras para evitar várias formas de wash trading.
Reduzindo as barreiras de entrada
Há muitos obstáculos tanto para operar uma exchange como para ser cliente de uma, então a DEX será construída com o intuito de simplificar ambos os processos. Como dito antes, a DEX terá uma arquitetura cliente-servidor simples, que não só faz sentido a partir de um ponto de vista prático da implantação, mas também do ponto de vista de reduzir as barreiras de entrada. Fazer com que uma criptomoeda específica seja suportada pela DEX é uma simples questão de adicionar suporte para atomic swaps, o que pode ser feito por desenvolvedores ligados ao projeto, em vez do serviço de exchange. Um feed de dados para cada servidor estará disponível para seus clientes e, opcionalmente, poderá oferecer dados históricos sobre negociações e ser armazenado no repositório da Politeia.
Arquitetura simples de cliente-servidor
Para manter a DEX descentralizada, o ideal é simplificar a configuração do servidor e a inclusão de um cliente. A configuração de alternativas para a DEX é complicada, como por exemplo, criação e manutenção de uma blockchain ou configuração de um serviço com restrições regulatórias KYC/AML. Embora seja improvável, é possível bloquear o acesso a uma determinada blockchain dentro das fronteiras de um país, e o mesmo vale para qualquer serviço de exchange. Ter uma arquitetura cliente-servidor com uma configuração simples não apenas facilita a configuração de novos servidores e clientes, como também aumenta a resistência à censura.
Adicionar suporte via Atomic Swaps
Fazer com que uma nova criptomoeda seja adicionada em uma exchange é geralmente um exercício de paciência, política, pagamento ou alguma combinação deles. O processo atual para ser listado na exchange é um verdadeiro dreno dos recursos de um projeto e coloca restrições artificiais à liquidez a que um dado projeto tem acesso. O único requisito para adicionar uma determinada criptomoeda na DEX será o suporte ao atomic swap, eliminando os obstáculos políticos e processuais existentes associados à obtenção de listagens em vários serviços. A simplicidade em conseguir acessar a liquidez das exchanges ajudará a nivelar a disputa entre os projetos de criptomoeda, onde alguns projetos podem obter uma vantagem substancial sobre outros através de listagens nas exchanges.
API do cliente
Os feeds de dados estarão disponíveis para clientes a partir de seus respectivos servidores e serão usados para dados históricos e em tempo real. A API permitirá que os clientes obtenham uma fotografia instantânea do livro de ordens, se inscrevam para receber atualizações do livro de ordens e acessem dados históricos. Como esses dados são originados no servidor, a quantidade de dados históricos e em tempo real vai variar de servidor para servidor. A qualidade e a quantidade de dados disponíveis provavelmente aumentarão substancialmente quando os servidores puderem transmitir entre si. Carteiras que suportem a DEX farão uso da API do cliente para gerar a interface do usuário.
Competindo através da latência
Como os mercados de criptomoedas cresceram em tamanho e maturidade, eles se tornaram um bom alvo para algoritmos automatizados de negociação, em particular os algoritmos de negociação de alta frequência (“HFTs”). Os HFTs aumentam substancialmente os volumes de negociação citados pelas exchanges, mas o valor desse volume é questionável, na melhor das hipóteses. A DEX usará correspondência de ordem pseudo-aleatória dentro de intervalos de tempo para limitar os efeitos de HFTs, enquanto ainda permite que clientes de baixa frequência tenham suas ordens correspondidas de forma justa. Vale a pena mencionar que os sistemas de pagamento off-chain, como por exemplo a Lightning Network, podem ser usados para exchange, mas é importante entender que há problemas com transparência e descoberta de preço, semelhantes às atuais exchanges de ações ou commodities.
Correspondência pseudo-aleatória de ordens
O tamanho do domínio dos HFTs nos mercados financeiros modernos não é discutido com frequência. Fazer mudanças para reduzir a influência dos HFTs é ainda menos discutido, já que as exchanges são incentivadas a permitir sua operação pelas taxas de negociação que eles geram. Algumas exchanges tradicionais, por exemplo a IEX e a CHX, adicionaram um “limite de velocidade” de 350 microssegundos para evitar a arbitragem de latência abaixo desse limite, e isso faz parte do caminho para a correção do problema. Em vez de abordar apenas parcialmente a arbitragem de latência, que ainda é possível mesmo com um limite mínimo de 350 microssegundos, a DEX corresponderá às ordens pseudo-aleatoriamente dentro de intervalos de tempo. Um intervalo de 10 segundos ou mais deve reduzir substancialmente as vantagens que podem ser obtidas por clientes com conexões de baixa latência ao seu servidor. Ao abandonar um algoritmo de correspondência de ordem first in, first out (“FIFO”), os clientes podem ter suas ordens executadas de uma maneira justa e comprovada dentro de um intervalo de tempo, evitando o comportamento de “fura fila” necessário para a operação bem-sucedida da maioria dos HFTs.
Subsistema off-chain separado
Considerando as latências muito mais baixas envolvidas com sistemas de pagamento off-chain, por exemplo a Lightning Network, é natural examinar sua utilidade no contexto da DEX. Uma grande vantagem do funcionamento on-chain da DEX é que as trocas são demonstráveis e podem ser verificadas como não sendo wash trades. Como o Lightning Labs demonstrou, os atomic swaps realizados off-chain são realmente possíveis, mas verificar que as correspondências ocorreram e que as correspondências não são operações wash trades não é trivial e, provavelmente, um processo muito difícil. À luz desses problemas com a transparência e a descoberta de preços que acompanham os swaps do LN, a DEX poderia incorporar swaps off-chain como um meio para que as ordens menores sejam executadas com baixa latência. Em vez de ter um livro de ordens off-chain, as ordens poderiam ser executadas a preços de mercado definidos pela DEX on-chain, onde a transparência e a descoberta de preços podem ocorrer com menos complexidade.
A visão do todo
Grande parte dessa proposta foi sobre as considerações práticas de como uma DEX ideal deve operar e como isso pode ser alcançado usando a infraestrutura de criptografia existente. Dando um passo atrás para ter a visão do todo, o que está sendo proposto aqui é uma infraestrutura de multiplexação para negociação de criptomoedas. Da mesma forma que o telefone e switches de rede multiplexam a comunicação num meio eletromagnético, as criptomoedas e suas exchanges multiplexam o armazenamento, a transmissão e a negociação de valores. O daemon do Lightning Network, lnd, é um excelente exemplo de um multiplexador de contrato sem permissão, neutro, sem custódia e inteligente, semelhante a nossa proposta de DEX. Enquanto a DEX irá operar on-chain e entre criptomoedas, o lnd opera off-chain e para uma determinada criptomoeda.
Os projetos de DEX atuais têm o objetivo de tornar esse protocolo “gordo”, usando-o como um meio de monetizar seus serviços, enquanto o que estamos propondo é intencionalmente tornar o protocolo “magro”. Ao tornar o protocolo mais enxuto e remover os incentivos para centralizar, nosso objetivo é fornecer valor a longo prazo, trazendo maior estabilidade para os mercados de negociação de criptomoedas. Colocar todas as criptomoedas em um patamar mais igual no contexto das exchanges facilitará o processo de compra de criptomoedas, o que beneficiará o ecossistema como um todo.
Conclusão
Ter a capacidade de trocar criptomoedas com o mínimo de atrito, risco e centralização é importante para o processo de adoção da criptomoeda pelo público em geral. A implementação da DEX, conforme descrito acima, irá:
- tornar a negociação um processo de troca que não necessita de permissões
- remover obstáculos, barreiras de entrada e a maioria das taxas
- ser mais resistente à censura do que uma blockchain intermediária ou token
- reduzir a influência dos HFTs no processo de descoberta de preços
- proteger a liquidez do ecossistema da criptomoeda contra predadores
- impedir ou filtrar o wash trade, criando volume verificável
- facilitar a regulamentação descentralizada da negociação
Esta proposta preliminar está sendo feita no Blog do Decred, já que é relevante para o Decred e para a comunidade de criptomoedas em geral. Uma vez que a nossa própria plataforma de propostas, a Politeia, estiver sendo executada na mainnet, essa proposta será enviada para lá, com o objetivo de encontrar desenvolvedores e financiamento para este projeto. Estimamos que a DEX possa ser construída com US$ 1-5M em 6 a 18 meses, dependendo dos desenvolvedores interessados. Se outros projetos de criptomoeda estiverem interessados em colaborar conosco para construir a DEX, estamos totalmente abertos. Sinta-se à vontade para acessar nosso Slack e ingressar no canal #dex.